Confesso que tinha planejado uma pauta bem diferente para essa segunda edição. Mas diante do ocorrido no último domingo minha cabeça não para de pensar sobre um assunto específico. E como essa é uma newsletter sobre o que se passa na minha cabeça, bom...não pude ignorar....
Aí lá vem política, aposto que você pensou...mas não. Até porque tenho certeza que você passou a semana toda ouvindo discussões sobre esse aspecto e também porque estou cansada da polarização excessiva, confesso.
O ponto que queria dar luz aqui foi o que mais me chateou nesse absurdo todo. Não bastasse o atentado ás instituições, ao estado democrático em si e o quebra quebra generalizado que no final entrará na nossa conta ( de todos diga-se de passagem) de contribuinte, afinal sabemos mais do que nunca quem paga pra gente ficar assim. Fiquei extremamente chocada com o fato do vandalismo se estender também as obras de arte expostas nos prédios que compreendem as praças dos três poderes.
Qual o tamanho da ignorância para se destruir tamanho, se não o maior, patrimônio de uma nação que existe: a cultura.
Eu sei, vivemos em um país com grande desigualdade onde muitas vezes o acesso a cultura acaba ficando mesmo em segundo (pra não dizer último) plano. Mas se você não acredita em coincidências vai achar no mínimo engraçado o fato de que justamente na semana do ataque eu estava relendo Cultura e Elegância, um livro indicado por um professor meu quando ainda estava na faculdade e o qual recomendo, que tem por objetivo funcionar como um mini guia de repertório com dicas do que ler, ouvir, assistir... um mergulho no mundo das artes, ou como o próprio livro diz, um acesso a amabilidade necessária a convivência humana.
Arte necessita de criatividade, e criatividade é sempre no fundo um processo de convidar o outro para ver o mundo da forma como o artista vê. Precisamos da arte porque precisamos dos outros e cultura é a produção humana que nos permite viajar no tempo e entender épocas diferentes das nossas e pontos de vista diferente dos nossos para assim então saber (foco no saber) conviver com os outros, cultivando nossa sensibilidade e ampliando os horizontes.
Para formar um ponto de vista é preciso escolher um caminho, e para escolher é preciso observar e buscar informação, até mesmo para ser contra algo. A destruição por destruição como foi vista não constrói nada, muito menos um país. Yuval em Sapiens defende que a única coisa que difere nós seres humanos dos outros animais terrestres é a nossa habilidade de produzir histórias. Vejo o artista então, seja qual for sua esfera de trabalho, como um contador de história. Renegar a história de seu próprio povo portanto, não é ser conservador, muito menos ser de esquerda ou direita e menos ainda ser nacionalista. É ser ignorante, no sentido que a palavra se apresenta no dicionário: ser aquele que desconhece a existência de algo. Assim por desconhecer não lhe deveria ser permitido discordar, muito menos destruir, dado que não se tem informação suficiente para tal ação e caso houvesse certamente não haveria a destruição. Lembrando que ignorantes somos todos e está em nossas mãos o processo de nos tornarmos um pouco menos a cada dia.
Reconhecer a beleza de uma obra de arte concordo que possa ser subjetivo, mas o seu valor é preciso aprender a compreender, pois a cultura como escreveu Alberto Guzik, é a ciência que nos explica a vida em sociedade e a valorização das tradições se traduz no cuidado com o patrimônio do país.
Há uma passagem interessante no livro que citei acima que conta a vez que um soldado nazista com ar de reprovação indaga Picasso diante da sua obra prima Guernica , que traduz o bombardeio na cidade de mesmo nome ocorrido em 1937 durante a guerra civil espanhola realizado pelo regime facista, “Foi o senhor que fez isso?” Ao qual Picasso retrucou com um “ Não, não fui eu. Foram vocês”. Pensando nesse breve diálogo, e pensando que algumas obras não terão condições de reparo, endosso a ideia que ouvi do jornalista Octavio Gudes, deveria criar-se um museu do 8 de janeiro, onde tais obras continuassem expostas na condição em que foram encontradas, com imagens do antes e depois. Um museu a la 11 de setembro no EUA, ou o museu do holocausto na Alemanha, assim por mais triste que seja seu estado atual, essas obras seguem sua missão de contar a nossa história e nos lembrar que um 8 de janeiro jamais deveria existir novamente.
Confira as obras de arte vandalizadas em Brasília aqui
Com o intuito de deixar dicas que tenham a ver com a temática da News e colaborar para diminuir a nossa ignorância (pois sábio é aquele que sabe que tem muita a aprender) deixo abaixo as exposições que estou de olho. Se quiser companhia, me chama!
Adorei seu plot-twist; com certeza todos os leitores achavam que você ia para um caminho de discussão política, até que PAN mudou e trouxe um olhar muito mais interessante para tirarmos de todo esse auê. Congrats pelo texto e me leva no Bansky :)