Semana passada postei o episódio de Gilmore Girls no qual a Rory ganha uma bolsa Birken do namorado, na época, assim como a personagem, eu não tinha a menor ideia do que era uma Birken e resolvi pesquisar. Acho que foi o primeiro momento em que entrei em contato com história e referência em uma peça de moda e então comecei a pesquisar esse universo ainda de uma forma tímida.
Já mais tarde na era dos blogs eu era aquela pessoa que ficava dando refresh porque já tinha lido tudo que havia sido publicado e feito pesquisas mais profundas sobre o que me interessava, e logo ficava entediada aguardando os próximos conteúdos.
A vida passou, os blogs evoluíram para o instagram, e eu que já gostava de entender e acompanhar as tendências, entender as referências por trás e movimentos de comportamento acabei indo trabalhar com isso, e já que essa agora era minha profissão a quantidade de conteúdo que eu consumia e pessoas que seguia se tornou uma verdadeira loucura (talvez ainda seja?).
Por alguns bons anos eu segui sendo a pessoa que sabia absolutamente tudo, quem estava despontando, quais as collabs que viriam, os desfiles, pautas, coleções, marcas consolidadas, marcas novas, eventos, lugares hotspot, quem estava usando uma estratégia nova…tudo tudo tudo.
O problema é que justificando o trabalho e talvez por uma certa FOMO, o tempo que gastava no instagram especificamente era um verdadeiro absurdo. Consciente disso aos poucos fui fazendo alguns mini detox e aceitando que o volume estava tão alto que era impossível eu acompanhar tudo como antes. Para isso então tive que fazer uma curadoria do que estava realmente me impactando, certeza que ainda muito a melhorar aqui, mas a verdade é que passei a procurar coisas menos velozes, que me aproximavam muito mais daquele momento lá atrás indo pesquisar o que era uma Birken Bag.
Mesmo com esse recálculo de rota até então eu não entendia como uma pessoa podia viver a parte desse mundo frenético. Foi só quando o tiktok começou a bombar que decidi que não tinha (ou não queria) mais tempo no meu dia para me apegar a mais uma rede social, já conhecendo bem meu histórico de curiosidade e autocontrole.
Várias pessoas tentaram me convencer sobre como o algoritmo era melhor, como o conteúdo era mais dinâmico, etc etc e mesmo assim decidi que não dava…até hoje passei ilesa pelo app (não que isso seja um mérito), lá estava eu a pessoa que sabia tudo de tudo vivendo a parte desse novo mundo.
Como não participante da nova rede tive a chance de ficar no lugar apenas do observador, e assisti então uma corrida de criadores e conteúdo e marcas para a nova plataforma, readaptando seus modelos para se adequarem e me questionando se aquilo tinha realmente a ver com os seus públicos. Assisti todo mundo mudar de imagem pra vídeo, depois pra reels…o breve surto do Club House, depois o breve surto BeReal (não tão real assim, vamos combinar), uma enxurrada de podcats porque agora todo mundo tinha o seu, vários influenciadores virando também empresários seja criando ou adquirindo marcas e nessa última semana observei uma nova corrida para entrar no Threads.
Eu até entendo que o pessoal heavy user do twitter andava meio órfão desde que o Musk assumiu a plataforma e não para de fazer alterações, e que o Zuck foi ligeiro em perceber isso e querer migrar esse pessoal pro seu lado. O tempo dirá se será só um frenessi de todo mundo querer participar da novidade ou se teremos uma nova rede que vai engatar dessa vez.
Recentemente fiz um pequeno estudo para uma marca que está em expansão para avaliar a sua presença no digital e tive a dimensão da quantidade de plataformas diferentes que tive que considerar. Ao mesmo tempo me perguntava qual seria o tamanho do time de conteúdo para produzir tanto em tantos formatos e comecei a refletir se fazia sentido para o posicionamento estar presente em tantos lugares. Não deveria ser esse o caso onde menos é mais? Quando se trata de tantos algoritmos que nunca temos 100% de certeza como funcionam e que a regulamentação tem sido um grande empecilho o quanto de energia estamos colocando ali que de fato impacta os nossos cliente? Adaptando a sabedoria popular de quem é amigo de todo mundo não é amigo de ninguém, será que quem se relaciona com todos os pontos de contato disponíveis consegue se relacionar profundamente com algum público? A verdade é que as redes sociais passaram a ser a estratégia em si e não uma ferramenta para a estratégia.
Na mesma semana do lançamento do Threads, também viralizou o vídeo da Volkswagen que emocionou muita gente, divergiu opiniões…aquele debate que já é conversa antiga depois de 2 semanas em um mundo onde as pautas duram 24h, mas conseguiu o raro feito hoje em dia de prender pessoas no mesmo conteúdo por mais de 15 segundos. Essa campanha certamente envolveu uma grande pesquisa, um trabalho forte de criação e estratégia de marca, mas também apresentou um resultado muito mais efetivo.
Certamente o trabalho por trás do vídeo a VW é impossível de ser realizado quando precisamos alimentar tantas plataformas diariamente, precisaria de uma equipe grande trabalhando em um volume absurdo e mesmo assim o impacto não seria garantido. Qual então é o equilíbrio entre a produção de conteúdo e onde ela deve ocorrer? Acredito ainda ser algo muito específico de cada público, marca, plataforma e objetivo, mas que na ânsia de ter resultados rápidos muitas vezes gera um eterno copy e paste de estratégias e formatos, sem falar no volume absurdo.
É impossível negar o quanto a presença digital hoje faz diferença para muito snegócios, seja você marca seja você criador de conteúdo (e não somos todos?), mas também me gera uma angustia pensar nessa corrida desenfreada em que todo mundo se adequa a nova plataforma e acaba replicando modelos, deixando nosso tempo sem identidade alguma…acredito que comportamento não é só tendência mas também construção de referência ( o que leva tempo), estamos então deixando espaço para a autenticidade no nosso mais do que líquido mundo, onde não é preciso fazer escolhas e no qual todo mundo pode ser tudo? Se o novo sempre vem, qual história estilo Birken Bag deixaremos para as meninas de 13 anos pesquisarem no futuro sobre a nossa geração?
Pra Ficar de Olho:
- Existe meio termo entre se prender ao Brandbook e se adaptar a qualquer custo?
- Você não é todo mundo, você não precisa tanto assim de branding.
-Uma boa argumentação de alguém que não gostou do vídeo da VW.