Não poderia começar sem fazer um disclaimer agradecendo muito a todos que tiraram um tempo para ler e divulgar o Report do SXSW 23, batemos de longe o recorde de acesso nessa edição e isso não seria possível sem o compartilhamento de quem assina o The Multitasknig Mind. Caso você ainda não tenha conferido deixo aqui o link.
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A difícil arte de ser um curador na era da abundância.
Outro dia li uma newsletter que infelizmente não salvei para conseguir dar o devido crédito aqui mas que refletia sobre como estava sendo exaustivo viver na contemporaneidade, essa frase em especial me pegou e ficou uns dias me acompanhando.
Um pouco antes do ano novo me propus a passar o mês de janeiro sem instagram. Minhas horas online estavam me assustando um pouco, o meu grau de comparação com a rede estava me fazendo mais mal do que bem naquele momento. E assim decidi fazer esse experimento social comigo mesma. Embora saiba que muita gente faz isso de tempos em tempos, mas eu nunca tinha testado já que trabalhando com comportamento de consumo eu justificava (justifico?) as minhas altas horas online como pesquisa de mercado. Não que isso seja totalmente mentira uma vez que hoje as redes sociais são campo imprescindível para conseguir trazer insights e tomadas de decisão.
Mas seguindo…No começo foi estranho. Fui passar o réveillon na casa de amigos e conheci pessoas novas. Logo após as primeiras conversas a pergunta qual seu instagram vinha e eu automaticamente me sentia na obrigação de avisar a pessoa que só iria adicioná-la dali há um mês, ou que não iria repostar a foto a qual ela tinha me marcado, como se não corresponder alguém que começou a te seguir ou repostar uma foto fosse a mais grave falta de educação dos tempos atuais.
Ao longo desse tempo passei por vários outros desconfortos. Me senti excluída naquele momento que a conversa dá uma pausa porque todos estão vendo as suas redes, fiquei por fora de acontecimentos pois tinha que fazer como os astecas e esperar alguém me contar, ver no jornal ou página do uol, tive que pedir para uma amiga me mandar em tempo real as fotos da viagem de férias dela que não conseguiria acompanhar online e pior de tudo…fui obrigada a lidar com o tédio aguardando coisas do dia a dia como o uber, a consulta médica, ou por alguém em um restaurante.
Quando o mês finalmente acabou percebi um comportamento novo em mim. Eu que antes maratonava TODOS os stories, comecei a buscar aqueles das pessoas que realmente senti falta durante o detox, e alguns dias depois percebi que estava eu mesma curando o conteúdo que me interessava. Mesmo entre aquele mar de pessoas que eu tinha decidido por vontade própria seguir, já que ninguém me obrigou a dar um follow em determinada conta. Por fim estava curando dentro da minha própria curadoria, olha só!
E foi assim que me dei conta que poderia parar de seguir 80% do pessoal ali e viver uma relação saudável com a rede, mas não a história não foi feliz assim! Embora o insight tivesse vindo, a fase curadora do meu próprio feed durou pouco e me vi de volta gastando horas para zerar os stories.
Mas Mariana porque você não silenciou ou deixou de seguir aquelas que não te interessavam mais? Eu te respondo, sei lá ! Tive medo de perder algo (oi FOMO, ta boa querida?), tive medo de perder alguma informação que poderia me despertar uma nova análise, um novo insight, uma conversa fora por aí, uma nova pauta para essa news, vai saber…
Percebo que meu problema é mesmo com o instagram, não cheguei a provar de outras drogas (risos), talvez pela consciência de que essa já me consume bastante. Me recuso a baixar tiktok ou twitter com o argumento de que não tenho mais horas no meu dia para maratonar novas redes. Não sou freak de séries ou podcasts, o que me faz de piada entre algumas amigas e se tornou um mundo que só comecei a desbravar recentemente depois de um jantar de fim de ano onde me fizeram uma lista do que era imperdível e eu PRE-CI-SA-VA ouvir/ver para existir no planeta terra.
Foi então que por um acaso em um podcast (a vida gosta de rir na nossa cara né?) esbarrei com a dica de um Ted Talk antigo, lá de 2014 (desculpe se essa dica não é nova pra você, culpe a minha aversão a gente falando no meu ouvindo depois de mil calls em um dia), que falava sobre o paradoxo da escolha.
Barry Schwartz é um psicólogo americano que defende a tese de que em um mundo com tantas possibilidades e abundância de escolhas e opções ao invés de termos a liberdade de escolha o que isso tem nos causado é na verdade paralisação.
Na hora ri e pensei no meu namorado, que quando encontra muitas vagas para parar o carro para em pelo menos 3 antes da definitiva, mas em um segundo momento também pensei em mim...pensei em como com tanto conteúdo disponível ainda deixo espaço para conteúdos que não me agradam ou não admiro consumirem meu tempo, por medo de deixar de fazer parte de sei lá o que, ou como as vezes me bloqueio para escrever essa newsletter porque quero trazer mais referência, porque preciso embasar mais, porque ainda não está perfeita como a do outro, etc, etc.
Sei que a impostora que habita em mim tem sua parcela de culpa aqui na trava, mas o quanto isso também não seria alimentado por ver que o influenciador x esteve em mil eventos, já leu todos os livros e logo é muito mais capaz para embasar qualquer análise do que eu.
Ao mesmo tempo faço parte da sociedade anônima do bode coletivo da internet que acha que tudo está igual (culpe os algoritmos) e inclusive mantenho esse canal como forma de resistência a tal da monocultura da internet mesmo já tendo ouvido que ninguém vai ler, ou que deveria fazer vídeos porque é o que rola... então porque ainda dou palco na minha vida para essas pessoas que não me interessam mesmo estudando tanto economia da atenção?
Verena Figueiredo inclusive fez um vídeo ótimo sobre nosso poder como consumidor na internet usando de fundo a trend da tal da base da Virgínia que explodiu e me deixa revoltada porque embora eu gaste um recurso muito valioso como o meu tempo, tem gente que além disso também financia conteúdo e produto ruim (na minha opinião) só para falar mal e assim continuar alimentando a trend sendo parte dela. (complexo eu sei, mas o video vale a pena)
Ainda não li o livro do Barry Schwartz (mas ele obviamente já foi parar na minha lista como você deve imaginar). Mas posso dizer que esse Ted Talk foi um tanto quanto libertador, tirando um pouco da minha FOMO e me permitindo colocar mais o meu trabalho no mundo mesmo que não esteja 100% pronto com todas as fontes cobertas, afinal a intenção de cobrir todas só tem me causado uma nova dor, a da paralisação.
E como gosto de problematizar também já conecto com um outro assunto. Seria esse um sintoma geracional meu ou do mundo atual? A sociedade da alta produtividade, a glorificação do busy...fica aí para discutirmos numa próxima news, pois realmente está difícil viver na contemporaneidade e eu por hoje já esgotei.
Mesmo assim vou continuar espalhando a palavra da curadoria por aqui, porque é o que no fundo acredito, mesmo que as vezes eu mesma me pegue não praticando. Como diria a Bruna do BBB, talvez eu seja a maior hipócrita que esse jogo já viu.
Pra Ficar de Olho:
- Amei essa news da Maíra do Café com Caos que também me fez refletir sobre como temos lidado com os vazios.
- Ted Talk sobre o Paradoxo da Escolha.
- O Paradoxo da Escolha versão livro se você é do livro que nem eu
- O ótimo conteúdo da Verena Figueiredo sobre o poder do consumidor na internet
Estou nessa experiência de ficar sem Instagram, fazem 7 dias e agora que estou começando a me acostumar a não desbloquear o celular e procurar esse bendito app. Me senti representada pela sua newsletter, obrigadaaaaaa 🤎
Amei amei amei essa edição. Achei que você trouxe o tema de uma maneira interessantíssima e sem dúvida me deixou com uma pulguinha atrás da orelha pra pensar / discutir mais sobre!!